Por vezes, na nossa vida, preferimos ir para a gruta do
nosso eu, ir mesmo ao fundo de nós mesmos, para ali lamuriarmos as nossas dores
e deceções da vida.
Parece que naquela gruta, longe de qualquer luz que possa
ofender as coisas passadas, podemos chorar e fazer o luto por aquilo que tanto
nos magoou ou magoa.
Ah, quando chegamos ao fundo da nossa história, em que
parece que nada dá certo, o melhor é fazer esta espécie de concha em torno de
nós mesmos para então aí tecermos um livro a partir das lágrimas e vazios
existenciais.
Porém, mesmo que estejamos na gruta, a luz continua a
iluminar lá fora. Não adianta que teimemos em ficar ali no poço mais escuro de
nós mesmos. A vida continua a trazer-nos surpresas.
Todos os dias, o sol nasce e traz consigo um novo dia. Mas para
este novo sol de cada dia, temos de sair da nossa gruta existencial e olharmos
para fora. Por mais escuro que esteja a nossa vida, sempre há uma luz em
qualquer ponta do tempo e do espaço que nos é oferecido todos os dias.
À medida que vamos saindo de nós mesmos, apercebemos-nos que
afinal, há ainda muita luz lá fora, e que apesar do passado amargo, temos um
mar de oportunidades à nossa espera.
A gruta do nosso “eu” até pode ser um refúgio para os
momentos menos bons da nossa vida, porém, a vida tem que ser saboreada pelos
seus momentos melhores, deixando-se para trás o que nos amarra à escuridão da
nossa tristeza.
A vida é como uma árvore cheia de frutos, alguns destes poderão
estar estragados ou intragáveis, mas a grande maioria está ali, pronto a ser saboreado.
Claro que é preciso que um fruto amadureça para se tornar cada vez mais doce. Há coisas nesta vida que têm o seu tempo e momento para nos serem dados. Precisamos cuidar da árvore para que possa dar frutos cada vez mais saudáveis.
Convido-te então a saborear o que de bom de te aconteceu e
acontece na tua vida. Saboreia as vitórias, um momento feliz, um abraço, um sorriso e tudo que de bom partilhaste.
A luz da nossa vida é feita de pequenas velas diárias, acesas uma a cada dia, sem pressa de apaga-las.
Quanto ao resto, que não foi bom, coloca no lixo pois mereces seguir em frente no teu caminho de futuro sem tantas amarras ao passado.
(Fotos e texto de Rosária Grácio)